SAKPATA Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século XVIII, vindo da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine Vedji. Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá. Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá a eles inspirações para a descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é a própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro. Toy Azonce é outro Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu assentamento fica em local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-lo. Somente UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar desse assentamento. É Toy Azonce quem sempre faz todas as honras para seu irmão Toy Akossu, quando ele está em terra. Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que gosta de comer quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy Abrogevi gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé que aprendeu a comer e a gostar de quiabo. Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca admitem falhas morais dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles é Ewá, filha de Toy Azonce. Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida de palmas novas, extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia vinifera. No Brasil, recebe o nome de Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra". A palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de ascensão, de regeneração e da certeza da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos. Um símbolo da alma. Além de proteger a vulnerabilidade do iniciado, sua utilização também é reservada aos deuses ancestrais, numa reafirmação de sua ancestralidade, eternização e transcendência. Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou ainda, uma pequena espada. A maioria deles gosta de manter o rosto coberto pela palha da costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar búzios e chaorôs (guizos). O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de eminência, de elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o prestígio da força vital, da criação periódica, da vida inesgotável, da fecundidade. Devemos lembrar que chifre, em hebraico "querem", quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder e força. O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que Sakpatá tem sobre a vida e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus Sakpatá, descobrimos um processo de anexação da potência, da exaltação, da força, das quatro direções do espaço, da ambivalência. O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos. Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e cada um deles especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe uma única maneira de agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos de artifícios. Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do Panteão de Sakpatá, onde devemos comer dançar e cantar junto com os Voduns. Esse banquete não pode ser aberto ao público e nem recebe o nome de Olubajé, que é um culto específico dos Iyorubanos. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas divindades, todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus filhos. Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os demais Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vem saudar o Deus da varíola e seus descendentes, comer e dançar junto com eles e, ali mesmo, é servido o banquete para todos os filhos do kwè.
Sakpatá é cultuado em seus templos sob um aspecto duplo. Possui o aspecto Jeholú ("Rei das Jóias", que seriam as pústulas trazidas pela varíola) que é tratado internamente e não recebe sacrifícios de sangue diretamente, mas é lustrado com uma mistura de sangue e azeite de dendê e envolto por panos. O aspecto Zun-holú ("Rei da Floresta") fica do lado de fora, recebe os sacrifícios de sangue diretamente sobre ele e é coberto por rodilhas de ramos secos da palmeira de ráfia (Raffia vinifera), e é um montículo que pode ser mais alto do que um homem. Os sacerdotes e fiéis o tratam como um ente vivo, o reverenciam, abraçam, etc. Zun-holú de tamanhos mais modestos podem ser vistos diante dos hunkpame de outros voduns, sobretudo nos de Heviossô. A iniciação de Sakpatá entre os fon consiste em duas partes. Na primeira e mais longa, os neófitos permanecem no hunkpame vários meses submetendo-se a disciplina rígida de silêncios, jejuns, aprendizagem de cânticos e danças rituais e nesta eles são chamados de agamassi. No final desta fase, as famílias juntam dinheiro para realizar um grande ritual, no qual os neofitos morrem simbolicamente e ficam escondidos por três dias dos olhos de todos, e depois são trazidos para fora enrolados em mortalhas e são publicamente "ressucitados" pelo Aklunon (ministro do culto). A partir daí eles recebem seus nomes de iniciação e passam a ser chamados de anagonu, por causa da acreditada origem nagô do vodun. No antigo Reino do Daomé, o culto de Sakpatá era olhado com suspeita, às vezes banido (e o foi, definitivamente, de Abomei). Uma vodunsi de Sakpatá não pode ser dada como esposa para o rei, e havia sempre a suspeita maior de que seus sacerdotes espalhavam deliberadamente a doença para aumentar seu poder. Mas outra questão importante neste caso é o fato de que Sakpatá abertamente desafia o poder real portando os títulos de Ayinon e Jeholú, que são títulos que o rei também possui.